domingo, 21 de junho de 2009

Avós (por Flavio Gomes)

Reproduzo abaixo texto que foi publicado pelo Flavio Gomes no seu blog dia 30 de Abril de 2008, quando a sua avó partiu.
Agradeço à todos que mandaram mensagens de apoio e conforto nesta última semana, e ao Flavio por gentilmente ter cedido este texto para publicação.

"As avós são sempre velhinhas, desde que a gente nasce. Por isso, quando elas se vão, a gente não sabe direito o que pensar. Eu penso na minha infância, nos domingos na sua casa, no meu avô falando palavrões e rindo com seus olhos azuis, cuidando dos passarinhos, fumando Continental sem filtro, falando dos sapatos de cromo alemão que ele fazia e consertava, meu avô era sapateiro, e escutando os páreos no rádio, meu avô também vendia pules no Jóquei. E penso na minha avó cozinhando, dando bronca no meu avô, cuidando dele, dos passarinhos dele, dos filhos, dos netos, da macarronada, das pizzas, do fogãozinho.

Aí o avô se vai, a avó fica sozinha na mesma casa de sempre, aquela em que a gente ficava sentado na grade da janela com os pezinhos pendurados, olhando o horizonte lá longe, aquela onde a gente jogava bola no corredor e derrubava os vasos, e a casa se esvazia, os netos crescem e viram gente grande e começam a trabalhar e se casam e vão para a vida, e a avó fica doente, e a gente usa a desculpa de não ter tempo, e é tudo muito triste.

Minha avó se foi hoje, aos 92 anos. Uma das defesas dos que ficam é tentar se convencer que foi melhor assim, parou de sofrer, a doença fere e dói.

Mas não é melhor nada, as avós e os avôs não deveriam partir, deveriam ficar aqui para sempre, velhinhas e velhinhos, porque eles fazem muita falta, e a gente não faz falta nenhuma, avôs e avós são muito melhores do que nós.

Tchau, vó."

Acho que eu não teria condições de escrever um texto tão simples e belo, por isso faço das palavras do Flavio as minhas.
E a saudade de ser criança, de viver tudo aquilo novamente, nessa hora só aumenta e me faz ter mais certeza de que crescer é chato. Ser adulto é um grande 'pé no saco'.
Não temos tempo pra nada, a vida passa, as pessoas se vão e a única coisa que realmente fazemos é trabalhar.
Fica o exemplo de um homem íntegro, honesto, com um coração do tamanho do mundo e que mesmo com todas as dificuldades que a vida lhe impôs (e foram muitas, algumas bastante cruéis), conseguia fazer piada e se divertir com coisas banais.
As risadas, as histórias, os palavrões em alemão, os passeios de Fusca, as 'traquinagens' e todos os momentos ficarão guardados na memória e no coração, com a certeza de que você está melhor e sem sofrer agora, junto de seus dois filhos que também já partiram.
Obrigado pelas alegrias e grandes momentos que vivemos juntos.
Tchau, 'seu Ari'.
Essa é a última foto minha com meu avô, feita dia 24 de Novembro de 2007. Naquela ocasião, o motivo da viagem também foi uma morte, a da minha mãe, filha do 'seu Ari'.
Se minha mãe estivesse viva ainda, amanhã seria aniversário dela.
Tristeza também mata!
Omega do piloto Marcelo da Costa com um dizer que vai bem neste momento:
"CORPOS VÃO. LEMBRANÇAS FICAM. ALMAS SÃO ETERNAS"

Fotos: Acervo pessoal Francis H. Trennepohl / Claudio Hreczuck - Ponto de Fuga

5 comentários:

  1. É Francis, é dificil mesmo. Mas seu Ari, acredito eu, estará iniciando uma nova fase.

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  2. Ola Francis.

    Com certeza essas são as fazes mais difíceis das nossas vidas. Mas temos que superar e a vida continua.

    Grande abraço.

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  3. Francis... tive o imenso privilégio de conhecer e conviver com a avó do FG. Era o nosso lugarzinho de guardar algumas peças do DKW de corrida que montamos, bem ali perto, na oficina do "negão" Crispim. Quantos cafezinhos e bolos saboreamos juntos... compartilhei com o Flavinho com ela se foi! Saudades, êta palavrinha de oito letras que mexe com a gente!
    abs
    Saloma

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  4. Vô e vó sempre é especial, mesmo sendo dos outros.
    Mesclam a sabedoria da vida com a tranquilidade de quem já passou por todo tipo de problema, conquista, alegria e tristeza.
    Valeu Saloma!
    Abração

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