Se a cabeça me ajudar, vou fazer na ordem cronológica dos que eu andei.
O primeiro deles foi o Fórmula Fiat Kaimann, mas vamos ao começo de tudo: a viagem.
Saímos daqui de Floripa com um pouco de atraso, e antes de completar 100 km de viagem o primeiro imprevisto. O João Henrique passou mal com 'balanço' do carro e soltou um 'jato' de vômito dentro do carro.
Quem tem filho sabe que a possibilidade de isso acontecer é grande, e quase sempre acontece.
Tivemos que parar para um 'pit stop' de quase 1 hora para limpar tudo, já que a 'lambuzeira' no carro foi grande.
Quando voltamos para a estrada, em menos de 2 minutos já pegamos uma imensa fila parada. Obras na estrada... Cerca de 20 minutos depois, pista liberada e uma fila gigantesca de caminhões pela frente.
Depois de algum tempo, paramos em Lages para o almoço, e estrada novamente. Mais 2 paradas por causa das obras, e mais atraso.
Por volta das 16: 30 chegamos em Passo Fundo (até que enfim!). Rápido 'pit stop' no hotel pra um banho e rumo ao Museu do Automobilismo Brasileiro, onde já estava reunida toda a turma.
De lá novamente para o hotel para outro banho e depois um maravilhoso jantar oferecido pelo anfitrião Paulo Afonso Trevisan.
Perto da meia noite retornamos ao hotel. Outra 'romaria' para banho, ajeitar as coisas para o dia seguinte, checar emails e até cair na cama já devia ser quase 2 da manhã. O corpo estava morto, mas a cabeça se negava a desligar, e ficava repetindo: "o dia chegou, é hoje!".
Isso se repetiu a madrugada inteira, até o 'pequeno' João Henrique acordar e reclamar de alguma coisa. Em seguida dormiu, mas eu despertei novamente, e o tempo não passava mais.
O barulho na rua, a chuva que caiu durante a madrugada, os argentinos conversando alto pelos corredores do hotel, tudo era motivo pra mais agonia.
Tinha vontade de tirar todo mundo da cama e me mandar pra Guaporé, dormir no chão dos boxes mesmo. Não aguentava mais aquela tortura da espera.
5 e pouco da manhã o alarme me acorda em definitivo. Abro os olhos e o cérebro me diz: "É HOJE!". Até que enfim chegou o dia.
Vou tomar um banho, faço a barba, escovo os dentes, passo a mão nas minhas coisas e já deixo tudo na porta do quarto, prontinho pra sair. Falta só acordar a turma, tomar café da manhã e ir pra estrada. Alguns minutos depois, 'pit stop' pra gasolina e comprar água, bolacha e outras coisas pras crianças, mais uma paradinha na farmácia e 07:45 estamos na estrada.
Exatamente às 08:55 estamos embaixo do portal da cidade de Guaporé, uma cidade pequena e muito bonita.
Não ia pra lá desde 1998, e consegui lembrar de algumas coisas. Atravessar a cidade inteira e chegar no outro lado, onde está localizado o Autódromo, parece uma tortura. É quase mais longe que a estrada de Passo Fundo até Guaporé.
Em alguns minutos, às 09:02, o portal do Autódromo. Não morri, mas cheguei ao paraíso. Passamos por baixo do túnel e em seguida o portão dos boxes.
Nessa hora não sentia mais as mãos, os pés, o chão... Já estava em outra dimensão, e o que estava ali era o 'piloto automático' do cérebro.
Estaciono nos boxes, um 'bom dia' pra todo mundo, abro o porta malas e já vou em busca do macacão. Pego ele e vou para o banheiro me trocar, onde o "Mestre Joca" e o Jan Balder já estão devidamente 'paramentados' e contando histórias.
Na saída vejo aquela movimentação toda: carros roncando, Paulo Trevisan correndo de um lado pro outro com uma prancheta na mão, "Saloma", Ceregatti e Lucca já com seus macacões, Eric e Belair com seus capacetes na mão, assim como o Vicente. Dentro de um dos boxes o Zullino já a postos dentro do Fórmula Fiat Kaimann. O "Vitão" já dentro do Omega, e no box ao lado...
... Jan Balder já devidamente 'atado' no Polar que fora seu, com uma cara de menino encantado. O nó na garganta aparece e os olhos ficam marejados. Jan Balder com o Polar na pista novamente. Momento histórico, e eu estava lá!
Ao lado do Jan, "il commendatore' Claudio Ceregatti.
Assim que os primeiros carros começam a roncar forte, o João Henrique se assusta e chora um pouco, enquanto o Gabriel se diverte com a 'confusão' toda. Minha esposa Aglaís tá com 'cara de paisagem', sem acreditar em tudo que vê.
Os carros começar a ir pra pista, e em alguns segundos os primeiros já passam na reta, com os motores berrando: "Estamos vivos. Sejam bem vindos ao paraíso!".
Que sensação maravilhosa.
Assim que o Zullino pára nos boxes com o Kaimann, o Trevisan exclama: "Vai, Francis".
Nem pisquei, já pulei dentro do carro e me acomodei.
Uma checada nos comandos do carro...
... e alguns segundos depois percebo que sou muito grande pro carro e não consigo movimentar os pés. Escolhi acelerador e embreagem.
Saio dos boxes, já com os olhos marejados, passo a 2ª marcha e as lágrimas correm pelo rosto. Contorno o primeira curva, passo a terceira e faço o reconhecimento da pista na primeira volta. O traçado é uma delícia, parece que uma curva te joga dentro da outra, até a 9 (última curva da pista) te jogar dentro da grande reta.
Passo pela primeira vez em frente aos boxes. Procuro minha família pra um 'tchauzinho' e coloco a 4ª. Como não consigo movimentar os pés, paro de acelerar já no meio da reta e deixo o carro 'rolar' até a placa dos 100 metros, quando 'espeto' com cuidado a 3ª para reduzir, já que não tenho acesso aos freios.
Em seguida escuto um ronco forte, de motor 'nervoso'. Uma olhadinha pra trás e vejo o Polar Divisão 4 com Jan Balder ao volante. Um sinal com a mão indicando o lado pra ele passar e lá se vai o Jan com seu 'brinquedo' dos anos 70.
Novamente as lágrimas caem pelo rosto. Que honra, fui ultrapassado pelo Jan Balder com seu Polar!
Mais 2 voltas e já acelero mais forte. O cérebro avisa que é melhor parar, pois sem conseguir colocar o pé no freio, a chance de dar cagada é grande, e o carro tem um valor histórico gigantesco e não seria eu o responsável por carregar uma marca tão negativa na minha vida.
Automaticamente 'levanto o pé' do acelerador e dou uma última volta, prestando atenção nos detalhes do traçado, na beleza do circuito e principalmente nos detalhes do carro. O trabalho da suspensão, o 'rangido' que o chassi produz, a suavidade do motor.
É tudo uma delícia, um sonho!
E depois nos boxes foi só alegria. Jan Balder, Luiz "Saloma" Salomão, Reginaldo Vitullo ("Regi Nat Rock") lá atrás, eu e o Joaquim Lopes ("Mestre Joca").
E depois nos boxes foi só alegria. Jan Balder, Luiz "Saloma" Salomão, Reginaldo Vitullo ("Regi Nat Rock") lá atrás, eu e o Joaquim Lopes ("Mestre Joca").
Amanhã conto a experiência com Omega.
PS: No Blog do Saloma, no Blog do Sanco, no Blog do Mestre Joca e no Blog do Zullino tem mais imagens e relatos do final de semana. Vale a pena e eu recomendo a leitura.
Fotos: Acervo pessoal Francis H. Trennepohl
12 comentários:
Pois é...
Essa eu perdi, mas nao vai faltar outra oportunidade (espero).
Um abraco, com inveja...
Fritz
Fritz, se você tivesse lá teria sido ainda melhor.
Você e o Jan Balder são dois nomes de peso, e teria sido espetacular!
Grande abraço, e esperamos que uma próxima dessas aconteça.
Fiz um longo comentário lá no blog do Mestre Joca e vou repetir aqui. ANDOU NOS CARROS QUEM MERECE! Você Francis, é detentor de um dos 7 blogs brasileiros que estão fazendo muito e com competência o resgate do automobilismo histórico,e que frequento sempre. O automobilismo de SC teve e tem uma trajetória absurda e que muitos entusiastas no centro do país desconhecem ou deesconheciam, porque tua divulgação está diminuindo o desconhecimento e até o descaso. Cada um de nós está fazendo a sua parte portanto. Vou esclarecer um detalhe.Naquele briefing impreso que entreguei na véspera estava claro que os primeiros a andar eram os detentores de blogs e você incluso.Lamento mas tive que largar teu piloto reserva no Kaimann porque você tentando colocar o macacão e ajeitar os "piás" Gabriel e João Henrique foi cômico!E teu pânico era visível!Veja que às 9horas os motores já estavam aquecidos e você poderia ter ido direto para qualquer carro extra large;mas com aquele monte de fominhas teve que esperar o primeiro pit stop e deu Kaimann.No Omega amarelo estava na lembrança nosso ídolo em comum Beto Prunner ou estou enganado? Viu o que está acertado o chão daquele carro? Pena que furou o radiador(já trocado)e ficou de fora e o 2ºjogo de pneus voltou intacto para casa.Bom,2 baixas em 8carros antigos para nós é ótimo.E apesar de eu sempre dizer que corrida é 95% de trabalho e 5% de divertimento,prá ti acho que foi o inverso pelo entusiasmo. PAULO TREVISAN
Grande Paulo, acabei de ver o post e já comentei lá no Mestre Joca.
Agradeço muito suas gentis palavras, e digo que é uma GRANDE HONRA receber um comentário desses, ainda mais vindo de alguém como você, pessoa apaixonadíssima pelo automobilismo, um lutador pela sua memória e história e acima de tudo alguém que tem alto nível de exigência. É UMA HONRA TREMENDA!
Como bem disse o Sanco nos comentários lá no Blog do Mestre Joca - e me permito pegar emprestadas as palavras dele -, fazemos por amor, paixão e com o intuito de manter viva a chama da história, que infelizmente é esquecida até mesmo pelos próprios pilotos, que alguns casos se furtam a ceder material ou contribuir com alguma coisa, num ato covarde e traidor de vaidade sem razão.
Tenho certeza que muita gente da "imprensa especializada" que não conhece a velocidade na terra - e se acha na condição de dar de ombros pra isso - se viesse pra cá sairia encantada.
O Rodrigo Mattar, por exemplo, é um cara que conhece tudo e mais um pouco do Automobilismo, e sempre teve vontade de vir pra cá, e ano passado quando veio saiu daqui como uma criança recém saída da Disney.
É a magia da poeira, que quem viu e sentiu jamais esquece.
Como a turma aqui de casa é composta por crianças pequenas não foi fácil 'movimentar a estrutura' dentro dos horários previstos, mas independente disso consegui aproveitar cada segundo do final de semana e tudo foi magnífico.
Curti cada momento dentro dos carros e também nos boxes, vendo e prestando atenção na expressão de cada um que chegava da pista.
Os olhares perdidos, incrédulos, o sorriso na cara e os olhos marejados jamais serão esquecidos.
O Beto é uma lenda viva e um grande amigo, e se pudesse, ligaria pra ele de dentro do Omega pra contar aonde eu estava.
Poder conviver e partilhar da amizade daqueles que foram e são nossos heróis não tem preço.
Sem falar que o Omega é um tesão pra andar, uma máquina mesmo.
No meu caso foi 101% de divertimento, de completo e total estado de graça, ou como disse minha 'patroa', com cara de bobo.
Grande abraço e mais uma vez MUITO OBRIGADO PELA OPORTUNIDADE.
Não são poucos os que gostariam de estar lá, e eu tive essa honra.
Obrigado!
Abração
101% ? só ???
brincou né? UM MILHÃO POR CENTO de diversão pelo menos.
Agora que o Paulo aprendeu a blogar e como ele sempre é referencia, esperemos mais visitas ilustres aqui e nos outros blogs irmãos, para falar de suas experiencias.
Amigo, vcs, titulares de blogs estão fazendo história, e me sinto privilegiado de participar modestamente desse esforço.
Abração
FRANCIS a minha última visita a Guaporé foi em 1985 e mais uma vez adiei o meu retorno. É tão perto e a vontade de ir lá é enorme, mas este ano passa rapidinho e novamente estarei lá para acompanhar os amigos.
E aí, amigão.
Sábado à noite. Faz exatamente uma semana do dia D. Dormir aquela noite foi estranho, pois eu parecia estar flutuando sobre a cama.
Agora há pouco recebemos aqui em casa uns amigos e eu - orgulhoso - mostrava as fotos da aventura. Nenhum era entendido de automobilismo, mas futebol eles dominam. Daí fiz uma analogia: já pensaram jogar no Maracanã, ao lado do Pelé e ainda meter um golaço? Pois é, foi mais ou menos isso que aconteceu com a gente.
Foi ou não foi?
FRancis,
Belo depoimento e obrigado á gentil menção ao meu nome.
Então eram "los hermanos" que faziam aquele barulhão dos diabos nos corredores?
Falando sério, estreaste em grande estilo e já com um desafio á frente. Por problemas que o Trevisan já comentou, o Kaimann F-Fiat padecia de alguns probleminhas de acerto no motor, e sua condução não era fácil.
demandava algum trabalho.
Mas pude testemunhar teu bom trabalho a bordo do Omega Stock Car e a tua felicidade ao volante deste carro mitológico.
Continuarei a apreciar teus relatos, estão bom demais.
grande abraço,
Regi, falta porcentagem pra dizer o tanto que foi bom...
Larri, tem que voltar lá, e logo!
Espero que as coisas por aí já estejam resolvidas. Continuamos na torcida.
Leandro, o único jeito dos 'futeboleiros' entender é usando esse tipo de exemplo, mas mesmo assim só nós, premiados que estivemos lá, sabemos as emoções que tivemos.
Valeu Mestre, obrigado.
Realmente o Kaimann estava 'manhoso', mas pra minha sorte foi tudo tranquilo e saí extremamente satisfeito do carro.
Já sobre o Omega... Daqui a pouco eu conto no blog. DEMAIS!!!!
Eu só imagino a emoção de todos vocês que estiveram lá, pois, somente em ler os relatos, sinto a adrenalina dentro de mim. A cada relato imagino-me dentro daquelas jóias da nossa história automobilítica. É um prazer enorme compartilhar dessa emoção com aqueles que estiveram no dia "D". Abraços
Tenha certeza Ike, realmente foi demais!
E é um grande prazer partilhar da amizade de um cara como você.
Abração
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