Para entender o anseio da comunidade automobilística catarinense é preciso fazer uma viagem no tempo e voltar ao passado.
Os estados vizinhos do Paraná e do Rio Grande do Sul possuem autódromos asfaltados desde as décadas de 1960 e 1970, quando o Autódromo Internacional de Curitiba foi inaugurado em 1967 e o Autódromo Internacional de Tarumã em 1970, enquanto Santa Catarina realizava os raids em estradas e ruas, além de competições a beira mar em Balneário Camboriú. É bem verdade que Joaçaba possuía desde 1965 uma pista construída nos arredores do Aeroporto Santa Terezinha, porém era de terra.
Ao longo das décadas os catarinenses assistiram surgir também as pistas de Guaporé (1969), Cascavel (1973), Londrina (1992), Santa Cruz do Sul (2005) e o Velopark (2008), enquanto em Santa Catarina apenas projetos eram expostos no papel, mas não avançavam, como foi o caso do parque temático Beto Carrero, que chegou a apresentar nos anos 90 um plano com uma pista oval de 1 milha para trazer a Fórmula Indy ao Brasil numa época em que a categoria estava no auge do sucesso, projeto este que era um sonho do próprio João Batista Sérgio Murad, o "Beto Carrero".
Santa Catarina limitou-se a trazer, especialmente entre as décadas de 1980 e 1990, provas de rua em Florianópolis, quando foram realizadas a Fórmula Ford, Fórmula 2 SulAmericana e Fórmula 3 SulAmericana - estas um grande sucesso -, e posteriormente a Copa Clio e Fórmula Renault nos anos 2000 (2002 a 2004).
No dia 20 de fevereiro de 2006 o Governo do Estado de Santa Catarina, através do FUNDESPORTE, liberou uma verba inicial de 3,5 milhões de reais para a construção do Autódromo Internacional de Santa Catarina.
Em pouco mais de 30 dias após a liberação da verba, tudo parecia que iria mudar a partir daquela manhã de domingo, 26 de março de 2006, por volta das 11:00 horas, quando ocorreu o lançamento da “pedra fundamental” do Autódromo Internacional de Santa Catarina, em Canelinha, município distante cerca de 70 km de Florianópolis.
O Autódromo Internacional de Santa Catarina está localizado no “Parque Internacional Arthur Adolfo Jachovicz”, uma área particular, cujo proprietário à época do lançamento do empreendimento era Sérgio Jachowicz, falecido em fevereiro deste ano e filho de Arthur. Ambos já foram prefeitos na cidade de Canelinha.
A cerimônia contou com a presença do então governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira, falecido em 2015, Paulo Enéas Scaglione, à época presidente da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), Jairo Anjos de Albuquerque, então presidente da FAUESC (Federação de Automobilismo do Estado de Santa Catarina), Gilmar Knaesel, naquela altura Secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte, Victor Tadeu de Andrade, ex-presidente da FAUESC, e outras figuras ilustres do meio automobilístico, além de autoridades estaduais, municipais, a imprensa e alguns curiosos.
A maquete do Autódromo Internacional de Santa Catarina apresentada na ocasião era praticamente uma obra prima, rica em detalhes e de uma beleza exuberante. Os dados referentes ao circuito impressionavam: terreno com 3 milhões de metros quadrados, pista com 4.307 metros de extensão, 12 metros de largura em média, dentro das mais avançadas técnicas construtivas e de acordo com as normas técnicas de segurança exigidas pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e FIM (Federação Internacional de Motociclismo). A pista estaria apta a receber competições nacionais e internacionais.
A reta de largada teria cerca de 860 metros de comprimento e 18 metros de largura, com piso de concreto, o que faria do local também um polo para provas de arrancada.
O traçado da pista principal foi projetado para ser de média para alta velocidade, com 7 curvas à direita e 6 curvas à esquerda, sendo no sentido horário. Ao todo seriam seis opções de traçados possibilitando a realização de um campeonato sem repetição de circuito.
Destacava-se também no projeto as áreas de escape nas curvas de alta velocidade com cobertura asfáltica especial ao invés das tradicionais caixas de brita, que na época já estavam sendo substituídas por asfalto nos principais circuitos do mundo.
A pista contaria com 30 boxes que teriam dimensões de 8 x 12 metros cada um, desta forma podendo abrigar até 4 carros, somando assim um total de até 120 veículos de competição simultaneamente. A altura dos boxes seria projetada para comportar os caminhões da Fórmula Truck, enquanto no andar superior seriam construídas salas vip e camarotes.
Os bolsões de estacionamento estariam localizados próximos aos portões de entradas, junto ao local onde as pessoas iriam assistir às corridas, garantindo assim um deslocamento interno mínimo de veículos.
Os convidados vips, pessoas credenciadas e as equipes teriam estacionamentos exclusivos atrás da área de box, sem passar pela pista, pois os boxes ficariam na parte externa da pista.
O Centro Médico seria construído em modernas instalações que contariam com heliponto, o que proporcionaria atendimento emergencial ágil para os competidores e o público em geral.
Da mesma forma a torre de comando da prova seria em forma ovoide e “super-moderna”, conforme descritivo, com fechamento lateral em vidro blindex que possibilitaria uma visão panorâmica de 360º para a direção de prova, comissários desportivos, equipe de cronometragem e profissionais de imprensa, que ocupariam uma sala no mesmo edifício.
As guaritas para os sinalizadores de prova (bandeirinhas) e as torres de televisionamento seriam projetadas em locais estratégicos, buscando maior segurança para os profissionais que estivessem trabalhando na pista.
A capacidade anunciada era para 50 mil pessoas e estacionamento para 20 mil automóveis, além das arquibancadas naturais ao lado da pista, próximas ao alambrado, que teriam completa infraestrutura de camping e capacidade estimada para receber mais 30 mil pessoas, somando ao todo 80 mil espectadores in loco.
Por fim, no complexo esportivo também seria construído um kartódromo, um motódromo e uma pista para velocidade na terra.
Todas estas informações constavam no memorial descritivo do circuito, e faziam qualquer entusiasta pela velocidade, seja em 2 ou 4 rodas, comemorar aos pulos a novidade.
A previsão inicial era de que a obra fosse concluída em 2 anos (portante em 2008) e contasse com o apoio financeiro do Governo Estadual, Municipal e da iniciativa privada.
“O local é fantástico. Vamos construir um complexo automobilístico que poderá receber todas as categorias do automobilismo nacional, além de outras modalidades. Esse dia é muito importante para o automobilismo de Santa Catarina. Vamos conseguir realizar um sonho de muitos anos e atender aos pilotos do Estado que sempre reivindicaram uma pista asfaltada”, disse, na ocasião, Jairo Albuquerque, então Presidente da FAUESC.
Entre sorrisos, fotos, discursos inflamados, frases de efeito e promessas, estava oficialmente lançado o empreendimento que entraria para a história de Santa Catarina.
Em janeiro de 2009, já com um ano de atraso na previsão inicial de inauguração, Jairo Albuquerque declarou em um programa de TV local: “Nesses 2800 metros a Federação, numa parceria com o FUNDESPORTE, com a iniciativa privada, nós temos, o que não foi pago, o dinheiro está na conta da Federação. Nós temos outros grandes parceiros, temos algumas negociações muito fortes, temos o Felipe Massa que é o padrinho desse autódromo, que inclusive é o padrinho do Automóvel Clube de Canelinha, que foi constituído junto com o autódromo, que é um dos nossos grandes buscadores de recursos e está a disposição”.
Jairo ainda complementou: “O importante é que essa obra, os 2.800 metros, vão estar em condições de asfaltar no máximo até final de março (de 2009). Se não tivesse tido o que nós tivemos de chuva isso já estaria pronto no mês de dezembro (de 2008). Se tudo ocorrer como o planejado a ideia é inaugurar o Autódromo em dezembro de 2010, com um grande evento, para dar a largada para uma nova realidade que vai virar a região de Canelinha”.
O valor estimado da obra, de acordo com o ex-presidente da FAUESC, era de 30 milhões de reais.
“Esse autódromo vai ter um investimento final em torno de 30 milhões de reais. Isso vai ter em torno de 20% de dinheiro público e 80% da iniciativa privada”, disse Jairo em 2009, onde também fez questão de comentar sobre o aporte financeiro: “o importante é que o autódromo deixou de ser sonho pra ser realidade. A Federação tem toda a parte de engenharia contratada e 80% dessa parte paga. Tudo que está ali, não se faz dívida de 1 real se não tiver o dinheiro em caixa, então isso é uma tranquilidade. Nós temos hoje condições de trabalhar pelos próximos 2 anos e deixar aquilo realmente em condições de receber 50, 60 mil pessoas”, afirmou.
Na mesma ocasião, em 2009, Jairo também disse: “temos dinheiro pra ir até os 2.800 metros de terraplanagem. Isso tá pronto. Nós vamos fazer os outros 1.000 metros, que é a parte da floresta, esse ano ainda. Nós vamos licitar agora no mês de março e vamos deixar a terraplanagem toda pronta durante o ano de 2009. Em 2010 nós vamos asfaltar e inaugurar esse autódromo com certeza no final de 2010. Vamos ter 2 etapas da Stock Car, 2 da Maseratti. Nós vamos ter um evento a cada 30 dias, um evento nacional. Nós vamos mudar a história do vale do Rio Tijucas com o Autódromo Internacional de Canelinha”, destacou o ex-dirigente, que também sublinhou a importância do envolvimento do governo estadual no projeto.
“O governador (Luiz Henrique da Silveira) disse que se nós fizermos o autódromo, a parte dele tá garantida: infraestrutura de acesso e melhorias na região, inclusive duplicação da estrada até o autódromo”, falou Jairo.
Desde o lançamento da pedra fundamental o único evento realizado no Autódromo Internacional de Canelinha foi o prólogo e Super Prime da abertura do Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country em abril de 2006, mais nada!
O mato toma conta de uma parte do local onde as obras foram iniciadas, e a única movimentação que há no local é de uma empresa de extração de argila que explora o local tirando dezenas de caminhões de terra por dia, já tendo extraído milhares de caminhões de terra ao longo destes 10 anos.
Infelizmente este empreendimento entrou para a história de Santa Catarina, como havia 'profetizado' o ex-presidente da FAUESC, mas por um motivo pouco nobre: é mais uma vergonha e uma grande afronta ao bolso dos catarinenses! O dinheiro sumiu, não existe nada no local e possivelmente nunca existirá, pelo menos no que tange ao interesse da comunidade automobilística.
Muitas perguntas seguem sem respostas e os envolvidos neste projeto certamente devem algumas explicações.
Lançamento da pedra fundamental em março de 2006.
Pra finalizar: a tentativa mais recente de lançar um empreendimento automobilístico em Santa Catarina partiu do empresário curitibano Cláudio Roberto Itinoce, que anunciou a construção de um autódromo internacional em Balneário Camboriú em 2013, porém este também jamais saiu do papel e provavelmente nunca sairá, pois o município de Balneário Camboriú sofre um boom imobiliário nas últimas 3 décadas e tem um dos metros quadrados mais caros do país, além de ser a segunda menor cidade de Santa Catarina em área territorial, com apenas 46,5 km², o que por si só dificulta que tal projeto realmente venha a ser concretizado.
Foto: Internet
7 comentários:
Para mudar MESMO o automobilismo catarinense, seria necessario um presidente que no 1.dia de posse instalasse uma AUDITORIA INDEPENDENTE, e passasse tudo a limpo@
Ou, alguem formalizar uma denúncia junto ao MINISTERIO PÚBLICO para levantar a (s) lebre (s) escondidas....
Francis na minha opinião os pilotos catarinenses precisam se organizar através da associação dos pilotos e formalizar uma denúncia ao ministério público e exigir que passem a limpo as gestões anteriores e se for necessário coloquem na cadeia os dirigentes corruptos que desviaram os recursos desta importante obra para SC
Sem comentários.
Estou com o Ike, sem comentários...
Mofem no inferno seus ladrões filhos de uma puta!
precizamos dum serjo moro no automobilismo
abs
jean
Fico revoltado pois amo o automobilismo. Se algum dos envolvidos resolverem e conseguirem voltar para Fauesc, vou junto com meus parceiros organizar um campeonato paralelo.
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